Portugal é um país muito rico, em tantas coisas se vê a sorte que temos nascer e viver neste país. O território, o clima, as pessoas. Ah, as pessoas! Essas criaturas humanas, que por razões cósmicas e metafísicas vieram a este mundo enquanto portugueses. E ser português é isso mesmo, uma condição, uma vez português para sempre português. Não há volta a dar, por mais que viajemos pelo estrangeiro, por exemplo, pela tão cobiçada cultura escandinava, o hit do momento, não há hipótese, uma vez português para sempre português.
Quem mais grita, em altos berros e a plenos pulmões, com qualquer estrangeiro para se fazer entender? Gritamos: “AH SIM! SIM! PARA A BAIXAAAAAAAAAAAAA? DEEEEEEEEEEEEEESCE! VIIIIIIIIIIIIIIIRA À DIREITAAAAAAAAAAAAA! E JÁ ESTAAAAAAAAAAAÁ LÁ! “OKAPA”?” Nunca ninguém reparou é que, talvez, não sei, sou portuguesa, já usei a mesma táctica, por isso posso estar enganada, um português não se deixa intimidar por essa questão pequenina: “Ah esta pessoa só fala “estrangeiro”! Estrangeiro? Qual quê! Aos gritos e em português vai perceber de certeza!
Isto é verdade! Os portugueses acreditam mesmo que gritar, chegar mesmo a berrar em português, entrará nos ouvidos dos estrangeiros como palavras absolutamente percetíveis! A minha avó, em todos os inícios de conversa ao telefone, perguntava: “ Onde estás?” E então falava no volume que considerava mais adequado de acordo com a distância. A distância física ou mesmo a distância de “culturas” vai dar ao mesmo.
Tratar por tu, também parece resultar, sobretudo na loja do senhor originário da China (parece mal dizer a loja do chinês? dirão as pessoas superiores que poderá ser demasiado redutor! Há que ter cautela com os “portugueses de primeira” e suas opiniões pioneiras relativamente a expressões demasiado xenófobas, e eu não quero ser apanhada em falta!) que fala apenas, e agora arrisco, mandarim (será?)! E é ver felizes portugueses entrar e: “Olha lá, tens aí alguma coisa para os calos? E enceradoras, tens? Tás ouvir, pá? Porra este chinês não percebe nada… Dá-me aí 3 disto e daquilo!” Às vezes aqui, os felizes portugueses aplicam gritos, que gritos e tratamentos mais familiares resultam na perfeição com os estrangeiros.
Eu adoptei uma outra característica que acho que funciona na perfeição, a nossa velha mania de que somos um povo com “um jeito para línguas” fora de série. Então é ver-me feliz e contente na loja do senhor originário da China:
- Bom dia, procuro uma régua de metal! – Em português, versão calma;
-Xim! Hã?
- Régua de metaaaal! – Em português, aos gritos;
- Xim! Hã?
- A “ruller” de metal! – Em “ela por ela” inglês-português;
- Xim! Hã?
- “Unaaaaaaa réguitaaaaaaa de metalé”!– Em espanholês;
- Xim! Hã?
- (Fo%&#&$f&%f564SSEEEEEEEEE!SÓ EM PENSAMENTO, que sou educada!) Não tens réguas, meu? Pá, anda lá mexe-te! – Nunca o fiz desta maneira, mas como uma vez português para sempre português, qualquer dia também eu perco a cabeça na loja do senhor originário da China! E passo a resolver tudo com mais decibéis, e com uns quantos tu cá tu lá!
E é apenas, quando finalmente começo a esbracejar, a gritar, em português em inglês em espanhol em francês e, já na loucura e no desespero, acho que por momentos, em mandarim (graças a um encosto “que se me desceu”!) lá consigo sair vitoriosa e comprar uma régua, não de metal mas de “plastic”! Menos mau! Mais uma Tuga que se safou! Oh Yeah!
E então porque é que estamos onde estamos? Com tantos recursos porque é que chegamos a este ponto? Somos imaginativos, criativos! Boa gente! Why people? Não podemos continuar com isto do “C`est la vie!” e preocuparmo-nos apenas com “where do you spend your vacances?”
Boa semana de trabalho, people!
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