Para ser perfeito eu devia estar à beira, mesmo à beirinha
de uma prancha de saltos. Um passo em frente, 4 mortais no ar e entrar na água
com o mergulho perfeito!
Depois aquela sensação de ir ao fundo, bem ao fundo. No
fundo dar uma cambalhota, esticar bem o corpo, dar balanço e deslizar até à
tona.
Na tona a nossa cabeça triunfante e o ar todo inspirado de
uma vez só, um impulso fresco por todos os poros e as braçadas tão vigorosas
que quase nos podemos sentir a abraçar a água.
E nisto aí está 2014.
Recordo-me de sentir nas entranhas a sensação estranha de
fazer contas e aperceber-me que em 2000, nessa passagem de ano mítica, teria 23
anos. Lembro-me de sentir medo por estar a chegar a uma idade tão crescida.
Lembro-me de achar que por essa altura seria já demasiado velha.
Não gosto especialmente desta altura do ano. É sempre nesta
altura que me engano, que mais me prometo isto e aquilo e oiço-me repetir
demasiadas promessas que, no fundo sei que não vou cumprir. É sempre nesta altura
que apetece dizer-me. “E se fosses à bardamerda, Julieta?”
Uns dirão que estou a ser demasiado dura. Outros, que sou
demente e devia era estar calada.
Se querem que vos diga estou-me nas tintas. Esta sou eu.
Vai fazer 7 anos que soube estar grávida. Vai fazer 7 anos
que planeámos e concebemos a nossa primeira filha. Vai fazer 7 anos que eu
mergulhei numa depressão nunca diagnosticada por um profissional, mas sentida
por mim todos os dias, a todas as horas. Adoro as minhas filhas. Faria tudo
igual. Teria cada uma na mesma altura. A idade era certa. O momento era certo.
Eu é que não estava de modo algum preparada.
Eu, que sempre me enganei a cada novo ano. Eu que sempre me prometi
e não cumpri. Eu que ainda tinha tanto por resolver comigo tinha agora a maior
das responsabilidades.
Cumpri tudo. Cumpro. Fiz tudo. Faço. Estou sempre lá. A
minha cabeça é que não. Essa está algures entre um ano e outro a prometer-me
coisas e numa batalha por não as cumprir. Sempre a desejar. Mais. Mais
perfeito. Melhor. Nunca a valorizar o menos, o não tão perfeito. O real. Aquilo
que é.
Agora chegada ao final deste ano, com quilos a mais, com
coisas por fazer, por dizer, com uma lista infindável de desejos que vou
assumir com mais coragem, olho-me ao espelho e pergunto: “ E se fosses à bardamerda,
Julieta?”
É por isso que agora que já penso em mergulhos, que agora
que já sinto a água mais fresca, agora que dei algumas braçadas, decido ir
mesmo à bardamerda. De mão dada comigo, porque eu vou estar cá sempre, portanto
o melhor é aproveitar-me. Nova ou velha. Esta sou eu.
Aqui vai disto. Vou então à bardamerda. Com tudo incluído. E
no caminho vou ver que isto de cá estar é que interessa. E quem cá está é que
vale a pena. E que os mergulhos podem ser muito divertidos. E frescos. E
revigorantes. E a cada cambalhota um impulso para avançar.
E sabem pessoas, talvez a bardamerda nem seja tão má como
isso, ou tão perfeita, mas com certeza valerá por tudo e por todos.
Especialmente por mim.
2014. Aqui vou eu. Comigo e com os meus. Comigo e com vocês.
Inspira. Expira.
Bora à bardamerda gente?
Bom Ano Novo!