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14.9.12

Os Sapatos de Cunha ou a Gabriela que há em mim.

Sim, a Gabriela Cravo e Canela. Não, não vejo a telenovela.
Os sapatos de cunha são daquelas cenas que ainda bem que alguém se lembrou. Se não era português, bem podia ser, porque com esta calçada, estamos sujeitas a tudo com uns sapatos de salto alto nos pés.
Nos dias em que opto por sapatos altos, dou preferência aos de cunha, agora no verão, uso umas sandálias com cunha. Tenho-as há anos, são discretas, têm apenas uma tira de pele à frente, de um tom creme muito suave, e prendem no tornozelo. Têm a cunha em cortiça. E não estão incluídas nas coisas “must have” que “muita stylista” (e já há muitas destas senhoras a mandar “bitaites” ou é só impressão minha?) do nosso país apregoa por aí.
Bom, isto para dizer que nestes dias há uma Gabriela dentro de mim. Umas cunhas bem altas e é ver-me assim a andar e a dar trejeitos ao rabo, discretíssimos, mas a achar-me! E lá vou eu, rua fora, tec tec tec tec. O problema é que andar de “cunhas” e ser distraída como eu não está a dar, ou até está, a dar uma estalada ou um bofetão involuntário na nuca ou nas costas de qualquer pessoa que vá à minha frente e que não mantenha uma distância mínima de pelo menos 1 metro! Mulheres, e até homens que usam cunhas, sabem do que eu estou a falar, não sabem? Aquele pé mal posto numa passada e UuÔoUuuú! A perna tremelica, o pé dá de lado e quase se dá o estatelanço na calçada, os tornozelos dão de si mas um safanão com um braço assim pró ar, que só não acerta em ninguém por milímetros, reequilibra-nos e UFA! Quase que era desta! (e agora venho falar de vergonhas, há pior que cair no meio da rua, ficar assim sentada no chão de perna aberta, tentar levantarmo-nos e – porque raio é que trago toda esta m***a dentro da mala? É um peso, um peso que me puxa, agora para me levantar vou ter que esticar o rabo todo para fora… estão a ver a cena!)
As cunhas podem ser perigosas, muito perigosas! E existem de todo o tipo. Piores são aquelas que se impõem, aquelas “cunhas" que nos mordem os pés, aquelas "cunhas" que nos passam por cima e nos destroem a esperança porque são maiores que nós, são mais poderosas, não são melhores que nós, são apenas mais desavergonhadas por isso abanam-se mais, acham-se mais.
Eu já sabia, as cunhas, não as há só de cortiça, de pele, ou qualquer material sintético. As cunhas quase nos fazem cair a cada passada, mas não nos vergam. Uma “cunha” deste tipo quase me vergou a esperança, num concurso público, no qual fiquei em segundo lugar (é sempre o lugar mais amargo!) porque dessa vez não me valeram excelentes capacidades de “tornozelo” e infelizmente quando dei o safanão para não cair, não acertei em ninguém e foi uma pena, dessa vez foi uma pena!
Por isto, cunhas só nos pés, mais não seja para chegar ao balcão da pastelaria, com pose, e comer um pastel de nata. Leva canela que é o que nos vale, não leva Cravo, o que é uma pena, nos dias que correm.

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