Durante anos, aliás durante toda a minha vida carreguei a maior vergonha de todas. Para a maioria das pessoas não pode ser considerado uma vergonha, mas para mim tem um peso tão grande como uma vergonha imensa.
O meu nome. Quem me conhece sabe que o odeio. Todo. Não é o primeiro, não é o último, é mesmo o nome todo.
Desde que tinha para aí uns 3 anos e me apercebi que me chamava Julieta Emília. E que este era dos nomes mais feios que alguém podia ter.
Nesse dia eu estava no laboratório de análises clínicas, uma mulher de bata atrás de um balcão chamou: " Sra D. Julieta Emília", tinha chegado a minha vez, era dia de tirar sangue com uma agulha, que aos 3 anos nos parece gigante, mas que nunca me afligiu, porque o laboratório de análises clínicas era mesmo ao lado do "Pão de Açucar da Alameda" e a volta na "Abelha Maia" que a minha mãe me prometia,
se eu não chorasse nas "análises", era suficiente para me tirar qualquer receio da agulha.
No entanto naquele dia, ao atravessar a sala de espera com toda a gente a rir porque, afinal a Sra D Julieta Emília, era apenas uma menina mínima de 3 anos, e não a velha de 120 anos que toda a gente julgou, porque ninguém no seu juízo perfeito dá este nome a uma criança. Os meus pais deram.
Em nome de amores perdidos por familiares que já partiram eu carrego esta cruz na minha vida.
Agora que tenho 36 anos começo a aceitar este karma, o constante virar de olhos que sinto em cima de mim de cada vez que digo o meu nome.
Porque quem chama Julieta Emília a uma filha não se fica por aqui não é verdade? Então vá de ser criativo e aproveitar todos os recursos.
Julieta Emília Iglésias, se é para ser então que seja à grande.
Não vos conto as vezes que me perguntaram pelo Romeu, em adolescente cheguei mesmo a cruzar-me com 2 "pobres" que se chamavam Romeu, nunca lhes consegui dirigir a palavra, nunca. Imaginam o que era? Romeu e Julieta, e um, coitado, era feio que doía...
As gerações mais novas já me brindam com o Dartacão, mas com esses posso bem, já estou calejada.
Os amigos todos me tratam por Julie, e eu gosto e identifico-me, mas juntem lá o Iglésias... um mimo!
Julieta Emília Iglésias Batista Neves.
E pronto está dito. A minha filha com 5 anos só há muito pouco tempo soube que eu me chamava Emília, porque até dela escondi.
Depois um dia, não sei quando, descobri o valor que tem ser diferente. E assumi. Se é para ser então que seja à grande.
Julieta Iglésias.
Uso-o para tudo. Profissionalmente é assim que me conhecem, pessoalmente é assim que me apresento. É meu e não vou ter outro.
E garanto-vos há momentos verdadeiramente hilariantes. Desde a senhora, empregada de balcão das unhas de gel vertiginosas, concerteza fã do Toni Carreira, que acha o meu nome romântico quando o escreve no talão das calças que ficam para fazer a bainha, ou os que ficam roxos com vontade de rir e eu os brindo com um "cala palermas": " Os meus pais foram muito criativos!"
Vergonha é dar um pum em público, espirrar e ficar com a mão cheia de ranho, viscoso e escorregadio e não saber o que fazer. Vergonha é fazer xixi fora do penico.
Eu já começo a ter pouca vergonha, não sou pouca-vergonha, escrevo o que me vem à cabeça, gosto de partilhar dissertações sobre momentos da vida nos quais reparo e que, vai-se lá saber porquê se esbarram no meu caminho diariamente.
E agora deu-me para isto, voltar a bloggar. Seja o que for!
Eu escapei, isto é, tenho instintos homicidas quando me tratam pelo primeiro e último nomes, Maria Pereira, quem é essa?!
ResponderEliminarNão sou do tempo em que ser Maria era chique, sou do tempo em que ser Maria era ser mulher a dias.
Gosto dos meus nomes do meio e é com eles que me identifico.
Mas todos os dias agradeço aos deuses não terem deixado a minha avó paterna escolher-me o nome. Ela escolheu o nome da outra neta (e dessa ela até gostava) e a desgraçada carrega o peso de ser Vitorina Antónia. Pereira.
(parece que do lado da família do meu pai não vem nada de que eu goste... Pereira)
O que eu me ri!!! Gostei muito muito! :))
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