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3.10.12

Era um buraco para enfiar a cabeça, por favor!

O meu prédio é recente. Ainda lá andam os operários da construtora responsável. Como ainda estamos no período de garantia, há uma série de arranjos ainda da sua responsabilidade.
De há uns tempos para cá, desde esta crise miserável, que afectou a minha área de trabalho em todas frentes e empregadas lá em casa passaram a ser uma recordação de outros tempos, que a minha casa sofre com a falta de tempo, com a falta de vontade, e onde muitas vezes as tarefas domésticas são deixadas para segundo plano.
Então que tive uma infiltração na parede do meu quarto, mesmo por debaixo da minha mesa-de-cabeceira.
Chamámos o operário para lá ir e combinámos dia e hora.
Dia e hora que eu não registei no meu pequenino cérebro e portanto nunca mais me lembrei.
Porque se eu me tivesse lembrado, eu teria virado furiosa das limpezas e posto tudo num brinco, porque se há pessoa que daria uma empregada doméstica merecedora de aplausos e lágrimas de comoção perante tal eficiência era eu. Mas eu dividi o meu cérebro em dois, que estamos em época de contenção e medidas extremas são urgentes, com tanto plano de austeridade, decidi poupar metade do cérebro e utilizá-lo apenas em casos de máxima importância.
Tocam à campainha e do outro lado o pequenino operário pronto para a missão. Não me atirem já as pedras. Não estou a diminuir a pessoa, a reduzi-la a “coisinha que aí vem”. Digo pequenino porque incrivelmente é assim pequenino como eu, baixinho!
Indico-lhe o quarto e quando o pequenino homem se dirige à minha mesa-de-cabeceira, fazendo voar bolas de cotão à sua passagem, reparo que do meu lado da cama, o lençol branco é apenas uma miragem no meio dos tufos de pelo largados por um dos meus gatos e por cabelos meus do tamanho do deus-me-livre-de-tamanha-sorte-que-é-esta-de-me-cair-o-cabelo-tooooooooodo-nesta-altura-do-ano! E nem vou referir a cama por fazer… Verdadeiramente vergonhoso!
(Lembro-me agora do efeito-boomerang, ah que a senhora da bata e o cão ranhoso tinham a casa cheia de gordura… e eu? Tenho o “faroeste” a passar-me aos pés porque tenho uma inércia que me domina em frente ao aspirador… assim inexplicável…).
Como uso apenas metade do cérebro, pareceu-me boa ideia dar um salto de repente, atirar-me para cima da cama, pôr-me em posição de ladecos, qual Cleópatra, e a partir dali trocar ideias acerca da infiltração… A cara de horror do pequeno homem! Começou a gaguejar e a despachar a conversa para se pirar dali para fora… e eu começo a olhar para a minha figura e …OH DEEEEUUUSES! Será que me tomou por tarada? Para ali deitada? Eu só estava a tapar o tufo de pelos! HOOORRORIIIIZADA, vermelha que nem um tomate lá indiquei a saída ao pobre homem, que assim pequenino à minha frente ia fazendo pequenas vénias e olhando-me sempre de soslaio não fosse eu atirar-me a ele… e lá foi meio torto à minha frente a balbuciar umas cenas, que nem ouvi , eu só queria um precipício!
Isto é frequente na minha vida, à conta de me achar tão perspicaz, em “pessoa que resolve tudo”, sem problemas, dou por mim em cenas caricatas, que ficam assim nas minhas memórias como “ o dia em que eu quase virei avestruz”! Cabeça tãaaaaao enfiada num buraco!
Eu imagino se algum dia calha em assunto, este pequenino homem comentar com o seu colega, por sinal enorme, que também já lá esteve a tratar da infiltração, se eu funcionarei com todos os fusíveis! É que o colega, que até lá esteve num dia em que tudo estava um brinco, deu um grande suspiro de alívio quando eu lhe confirmei que o alto que ele via na minha cama era um gato escondido e não a criança que ele achou que estivesse a dormir a sesta, assim toda tapada, cabeça e tudo… Opá que tenho os meus problemas, que já estive mais longe de me receitarem a unidose, mas ter uma criança a dormir a sesta enfiada a meio de uma cama de casal toda tapada era no mínimo estraaaaaaaanho! Então com um tipo gigante a martelar a parede, era caso de internamento urgente!
Agora vamos lá ver se o outro homem-pequenino (se calhar nem é pequenino, através da televisão ainda não percebi, mas gosto de imaginá-lo assim tipo ratinho, pequenino, de caudinha compridinha, agarra-lo pela caudinha e atirá-lo, VRUM VRUM VRUUUUUM e PÁAAAAS! Estatelado no meio do chão! I Wish!), o que fala muiiiiiiiiiiiiito pauuusaadaaaaaameeenteeeeeee, não fará mesmo com que hoje eu me queira atirar de vez de um precipício ou apanhar um avião sem data de regresso e ir pregar para um outro país!
A ver vamos! Começa as declarações às 15h, lá pelo final da tarde teremos conclusões sobre as novas medidas de austeridade. Oh Karma!

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