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27.11.15

A não-bloguer.

Cestos de verga? Flores secas? Alecrim? Conversas escritas em modo poema? Tricot? Lãs e algodão? Pores do sol? Praias vazias? Tons pastel? Pausas? Mindfulness? Rodopios? Mãos dadas? Canecas fumegantes? Pão tostado? Iogurte grego decorado com papoilas? Olhares lânguidos? Versos de amor? Gatos persa? Ardósias? Giz branco? Madeiras claras? Corridinhas seguidas de paragens acompanhadas de sorrisinhos? Rodopios? Mãos ao alto? Manta de xadrez? Macramé? Tisanas? Café com leite? Café sem leite? Rosa? Azul? Alfazema? Branco? Tão branco? Tão, mas tão branco? Pézinho no ar? Boquinhas? Selfies em tons pastel? Maridos de telenovela venezuelana? Maridos lânguidos? Bebés pastel? Crianças pastel? Crianças enlaçadas? Crianças de cera? Biscoitos? Copos de leite? Leite de amêndoa? Óleo de amêndoas doces? Ovelhas e carneiros? Campos a perder de vista? Lareiras crepitantes? Frascos de vidro? Rodopios?
Rodopios!
Assim de braços abertos, na fila do talho, ó senhor do talho prepare-me uns medalhões, mindfulness nisso, meu caro senhor do talho, corte com gentileza, enquanto eu chapinho nestas pocinhas à porta do seu estabelecimento e tiro uma selfie. Depois publico no blogue a perfeição de uma ida ao talho, eu em fofa pastel, a dar saltinhos enquanto penso na receita com alecrim que vou cozinhar no meu fogão a lenha.
Rodopios!
Com olhares lânguidos na drogaria a comprar cal, para caiar o lugar de todos os afectos, e fio de algodão e cestos de verga, ó senhor da drogaria eu estou a olhar de lado porque fico mais gira de lado, não, não sou alucinada, a cabeça tombada para o lado é sinal de ternura, de mantas de xadrez e tisanas fumegantes, eu em modo fofo, tão, mas tão fofo.
Rodopios!
Macramé. Crochet. Tricot. Selfies no meio das lãs. Em posição número nove do namasté das saudações ao sol. Não, não estou marreca, gosto de estar assim, em mindfulness com o meu body. Não, não são sementes a mais nos molhos de rúcula que como em golfadas esfomeadas nem sementes de chia em doses exageradas de overnight oats directamente do frasco. Não. São entendimentos do meu interior. Tão eu. Tão nós. Tão sempre assim. Assim, tão, mas tão assim. Não estou marreca, apenas sou.
Rodopios!
Ó vida, ó eu, ó cestos de verga e dedos encarquilhados do peso! Ó leite de amêndoa que não sabes a nada! Ó flores secas que se desfazem em pó e sujam tudo! Ó alecrim aos molhos e já se sabe, choram os meus olhos! Ó tricot, cena dos infernos que mete duas agulhas e tanta contagem e aumentos e diminuições e a minha professora de matemática do 5º ano à minha frente a gritar: ouve lá tu não aprendes nada? Gatos e pelos, pelos e gatos! Crianças, gritos, ranho, birras, mindfulness na gritaria ménes, mindfulness na gritaria! Macramé, namasté, salamalé, lelé, da cuca lelé! Rodopios, pézinho no ar, saltinhos em pocinhas, marreca, tão, mas tão marreca! Ó casa imaculada, excepto ao sábado de manhã, pilhas de roupa em dias de inverno, chuvosos e cinzentos, húmidos, tão, mas tão húmidos. Panelas que cospem comida, chaleiras que vertem, café derramado em atrasos adormecidos, despertadores que não tocam. Trânsito, tão, mas tão compacto. Ó pó dos infernos que entranhas na mobília, e na minha versão de acumuladora compulsiva. Ó crianças fofas enlaçadas em dedos pegajosos, espetados nariz acima a escarafunchar salões decorados a verde. Ó vida que corres ligeira de todas as cores, umas vezes mais escura, umas vezes mais clara. Tons de coisa que foge por entre os dedos agarrados às esfregonas , tão, mas tão rodopiantes.
Rodopios? Só se com a esfregona, tão esfre, tão gona. Tão assim.
Namasté, meu povo, mindfulness no té e no salamalé!
E depois é pegar na máquina fotográfica, registar tudo e partilhar essa cena tão, mas tão edílica que é a vida, ao sábado de manhã, no pós guerra doméstico.
Mindfulness, ménes!
Nunca serei uma bloguer.
Bom fim de semana, namastés do meu coração. Batem forte, tão, mas tão cá dentro!

11.11.15

Coligações, a vida a imitar-se a ela própria, mais do mesmo, e desta vez nem dá para rir.

Um tipo.
Gordo.
Com um gosto discutível para outfits.
Um tipo gordo, que grita impropérios, às 4 da tarde.
Um tipo gordo de pijama, a gritar: Puta da Velha! Vai à merda, ó velha!
Uma velha de andarilho que por acaso é a sua mãe.
Uma imbecil com gosto aparente por drunfos, que por acaso é sua irmã.
Um surdo de conveniência, com cento e tal anos, que por acaso é seu pai.
E eu, que por acaso sou vizinha destas avantesmas.
Ou serei, assim que acabem as obras na minha casa nova ainda que velha.
Um gordo, com mãos sapudas, agarrado ao que é meu, por direito, e por torto.
Um gordo, com mãos sapudas e pegajosas. 
Um gordo, alapado ao que não lhe pertence e aos gritos: Puta da Velha! Vai à merda, ó velha!
Às 4 da tarde. Apijamado.

Um canteiro que por acaso é meu.
Um canteiro protegido apenas por uma grade larga.
Tão larga que deixa passar as mãos sapudas do apijamado.
O mesmo apijamado que grita à 4 da tarde impropérios à velha de andarilho.
Puta da Velha! Vai à merda, ó velha!
E ao mesmo tempo acaricia as flores...horrendas… tipo couves…
Que o surdo de conveniência, e centenário e usurpador, plantou no meu canteiro. 

Eu até podia manter as couves, que não tenho tendência para retro escavadora, mas depois de meter polícia, fiscais da câmara, denúncias e outros mimos proporcionados por tão adorável vizinhança, a minha paciência acabou.

De nada vale, neste nosso país tentarmos ser civilizados, de nada serve comportar-mo-nos de forma cordial, porque a paga é sempre contrária. De nada serve ir pessoalmente pedir desculpa e paciência por desconfortos causados pelas nossas obras, porque não será essa a via escolhida à primeira queixa, mas sim ser bufo e fuinha.

Portanto, os ménes do lado que não esperem coligações que eu cá não estou para cenas. Sobretudo coligações pós-fétidas. Coligações de conveniência. Como a surdez da múmia que insiste em tratar-me por vizinha e plantar desgostos no meu canteiro enquanto tenta a paz podre e dissimulada, aquela do tipo deixa estar que prá próxima...

Olha que agora era já a seguir, um apijamado, com verborreias mentais, a gritar impropérios, coligado comigo, em que o bem comum é o meu canteiro.
Uma drunfada com tendência para bufa, um surdodeconveniência e a do andarilho a reboque.

Então que após as queixas, assim que a poeira acentou, o surdodeconveniência tentou a abordagem da coligação.

Pode meter a coligação no realíssimo. E levar as flores a pastar noutras paragens. Cá estaremos para embelezar o canteiro à nossa maneira e de forma independente. Em que o único cheiro fétido será o do estrume a fazer o seu melhor e mais digno papel. Porque até a merda tem direito a uma segunda oportunidade. Sobretudo a feita para tal ainda que com a conivência do seu defecador.

Querem cena mais actual que isto? Sorte marreca.

Eu marreca e só malucos à minha volta.

Eu maluca e só marrecos à minha volta.

Tá tudo doido, pá!

E nunca mais é verão! Porque eu lá estarei outra vez… estaremos!

Boa semana e muita castanha e muita jeropiga e muito de tudo, queridas pessoas, "qu`isto não tá pa risotas"!