Um homem com cerca de 200Kg, quase o sherek, só não era verde, quase cai em frente ao nosso carro, eu mando um gritinho e fico para ali a
congeminar se o tipo tivesse mesmo caído como é que eu o ía ajudar a levantar-se.
O homem lá se equilibra e avança para a paragem do autocarro. No único banco
disponível sobra o lugar do meio. O homem com cerca de 200kg senta-se e
logicamente uma das senhoras sentada é quase projectada para o chão. A senhora
retira-se a resmungar a olhá-lo de soslaio, e o homem com cerca de 200kg fica sentado à espera do
autocarro, impávido e sereno. Oiço a Rosarinho: “Olha-me aquele, ocupou o lugar todo, coitada da
senhora teve que sair, isso não se faz pois não mãe? Ó mãeeee do que é que estás
a rir?” Nada filha, nada.
Uma mulher, claramente descompensada, ou em vias de,
telefona para a loja para pedir informações sobre as aulas de costura. Fala
seguido, sem paragens, o discurso sai aos tiros e a meio da conversa
descreve-se: “Sou baixa, gorda, com um rabo enorme e umas mamas grandes, está a
ver?” Juro que me apetecia ter dito que sim, que estou mesmo a ver, atarracada,
badocha, cuzuda e mamalhuda. Teria gostado da minha descrição? É que era a
mesmíssima coisa. A caminho de casa lembro-me dela, tento imaginá-la. Lá atrás
no carro oiço: “Ó mãeeee do que é que estás a rir?” Nada filha, nada.
Uma mãe, que eu considerava do tipo super-mãe, passa-se numa
festa de aniversário infantil e vá de exorcizar toda a sua vida perante uma
plateia de mães incrédulas: “Eu anulei-me, eu estou parada há sete anos, eu
deixei toda a minha vida pelos meus filhos, pelo meu marido, quis-me em casa e
eu aceitei, aliás é o que todos querem não é? NÃO É? Todas que estamos aqui
sabemos disso!” Uma mãe, que já tinha manifestado o desejo que lhe enfiassem um
saco plástico pela cabeça abaixo porque tinha que etiquetar todo o material
escolar da filha durante o fim-de-semana ainda lhe disse: “Olha, tu vê láaaaa
se ele dá valor a isso e se não se esquece disso nas viagens, à noite…!” Achas para a
fogueira enquanto coçava umas babas que besuntava de fenistil. Foi assim que
tivemos todas direito a assistir ao momento “descarga eléctrica”: “AI DELE!, Ai
dele, que eu estou muito atenta! AH NÃO PENSEM VOCÊS! EU estou em todas as
FRENTES! T.O.D.A.S (medo!) Ele nunca teve que fazer nada, chegou onde chegou
por mim, eu é que fiz dele o que ele é (medo!)! Nunca comprou uma par de meias para
os filhos, nada, banhos? Nada! Deitar? Nada! Eu, eu, eu! Ah, ah, ah, ah, todas
as FRENTES, TODAS, ah, ah, ah! Ai deleeeee!” Ai dele, digo eu, a ver pela
expressão da super-mãe-a-100%. Já no carro de regresso a casa comento com o Gil
este caso bicudo. “Ó mãeeee do que é que estás a rir?” Nada filha, nada.
Um homem, ao passar no portão do colégio, dos seus setenta
anos, passa por mim e pela Mercês e eu digo qualquer coisa como: “Deixa passar
o senhor!”. Ao que a criatura responde, com voz de trombone: “Deixa passar o
MORTO!” E eu fico para ali a pensar se terei ofendido o homem. “O MOoOoooOOORTOOOOO!”
Assim de arrasto. À porta do colégio. “Ó mãeeee do que é que estás a rir?” Nada
filha, nada.
O vizinho do segundo andar aparece quase sempre dentro do
elevador quando nós chegamos ao final da tarde, e diz sempre a mesma coisa,
sempre no mesmo tom, como se tivesse um amendoim enfiado numa narina e um
gramofone croata noutra: “Boãs tardnhes! Facham o favorenhe de entrarnhe.
Nhenhenehneh ai as criançanhes já vão cansadenhes nhes nhes!”. Atentem, vocês
levam minutos a ler esta tentativa de o reproduzir. Ele diz isto em 0,01
segundos. Assim, rápido, rápido, e do alto do seu 1,89m. Cá de baixo só oiço
Boãs tardnhes, nhes, nhes… “Ó mãeeee do que é que estás a rir?” Nada filha,
nada.
Pensarão as minhas filhas que estou à beira da loucura? Nhão
nhãooo, é só uma ideianhe nhe minha nhe nhe!
“Ó mãeeee do que é que estás a rir?” Nada filha, nada.
Bonhe finhe de semanenhe, gentenhem nhe, nhe!
Esse momento foi assustador, e para o contexto foi " too much information"... Mas saíram outras pérolas maravilhosas dessa tarde...
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