Estava eu nas minhas férias, num daqueles almoços tardios de tardes quentes e horas de praia prolongadas quando eis senão quando se me depara uma epifania, um momento lamechas, um momento único. Único no espaço e no tempo, porque não pretendo repetir esta minha incursão nesse mundo movido a lágrimas e dores de amor, onde não existem homens ideais, a não ser esse ser coiso compulsivo que escrevinha umas merdices de cor púrpura, aquele das chagas, todo ele prazer doméstico, o vomitador de frases feitas para animar senhoras.
Naquela tarde quente de Agosto foi impossível.
Eu estava ali, a tentar distrair-me daqueles guinchos próprios de crianças com mãos peganhosas de manteiga em versão histérico-desvairadas, do mesmo tipo dos dois espécimes que me calharam em rifa, essas adoráveis criaturas que me tratam por mãe, aos berros e aos saltos mal sentam os realíssimos traseiros em cadeiras de restaurante.
Eu estava ali, e ele estava mesmo ao meu lado.
E eu vi-o, e imaginei-o num primeiro encontro com uma esperançosa companhia de que este sim, podia ser o tal.
Até podia, não sei. Às tantas, estava ali ao meu lado um chaguinhas ou mesmo um gustavinho, um coisinho que faria feliz muito coração despedaçado e de mal com essa cena call L`Amour.
Até podia, não sei.
Agora o que eu sei, minhas amigas e meus amigos, é que os pormenores nos dizem tudo. E esse foi o click que me fez por momentos mergulhar , de chapão, é certo, que assim não mais repetirei este correio do amor e esta rubrica fofo-deprimente.
Ó pessoas, o tipo estava a comer amêijoas e a arrumar as casquinhas.
Arrumadas. Dispostas em fila. Tipo peças de dominó para efeitos. Cascatas de cascas de amêijoa. Cascas de amêijoa dispostas à La Ópera de Sidney. Muito bem arrumadas no prato.
Fujam mulheres, fujam homens, fujam gente!
Porra! Cascas de Amêijoa arrumadas? Dispostas no prato por ordem de tamanho? Encaixadas umas nas outras?
Ah, olha e tal, vou ali e já venho!
(pausa para palavra com éfe, audível o suficiente, acentuada com muitos esses no final… sssssse…ssssse).
É fugir e nunca mais olhar para trás, nunca mais!
Pior só a outra que em três dias de relação, acabou logo ali com um futuro amoroso promissor após um repasto de mexilhões e uma saída digna de muito comprimido para o enjôo quando se levantou e disse ao seu amado: “Vou ali mandar uma cagada!”. Escusado dizer que o amado ao final da tarde já estava em Lisboa, após deixar a chorosa dama por terras do Algarve.
Uma bela cagada era o que ía dar uma relação com um arrumador de casquinhas de amêijoa.
Fujam mulheres, fujam homens, fujam gente!
Foi como ontem, quando um Costa e um Passos se defrontaram e com apenas uma fotografia do aceso debate me convenceram que a minha cruz é cá coisa minha e que eles são exemplos concretos do que procurar e recusar num par para relações futuras.
Passos com aquela cara de abatanado, que não se sabe se está, se foi, se irá, aquele tipo de cara de meta, partida, largada, fugida, sem retorno. Mulheres e homens, fujam! Fujam se num date vislumbrarem tal coisa na cara dos candidatos a amantes eternos!
Costa com uma promessa sacana, do tipo logo se verá: “Baixaremos as taxas moderadoras mas não me comprometo com montantes ou datas.” O amor. Nem sim, nem sopas. Talvez, quem sabe. Antes ou depois. Mulheres e homens, fujam! Fujam se num date vos agarrarem na mão e se vierem com uns prometo, prometo, deixa lá ver é se depois cumpro, oh se calhar nessa altura já estou a cocktails e palmeiras. Lá bem longe, a praticar o desapego. Fujam!
Quem é vossa amiga, quem é? Até nas férias me lembro das minhas queridas pessoas que ainda não descobriram o caminho do amor gritado por teorias Chaguianas polvilhado a Santos em dias de frio e partilha de cache(colinhos)!
Bom fim de semana, pessoas!
Nota: Pois eu sei… depois de ouvir a história dos mexilhões aqui há uns anos, também eu deixei de os comer, tal o enjôo… desculpem lá a partilha, mas lembro-me sempre da fuga contada pela voz da alminha que não esteve atenta aos pormenores, do horror, do drama… da cagada em que acabou essa relação! Um mimo. Sobreviverão. O meu amigo sobreviveu ao após Mexilhões. Eu é que mexilhões, não obrigada!
Eu arrumo as casquinhas.
ResponderEliminarValha-nos a diferença, senão o mundo tombava! Go, sis!
EliminarMuito bom! :)
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